[À meia-noite de sua noite de fuga, o jovem nagô levanta como fagulha de fogueira do pisador de terra batida e vai até a negra mais idosa da senzala entoando entreboca um canto-súplica, que todos aqueles que pingaram sangue ao solo conseguiam ouvir dentro de seus corações...]
Preta Velha, Preta Velha
Mãe de luz, força lúcida
Preta Velha, Preta Velha
Velha Preta, vou-me em fuga:
Preta Velha, Preta Velha
Esta noite vou-me embora
Vou-me pela mata adentro
Com o pensamento na senhora
Preta Velha, Preta Velha
Ouça este forte yorubá
Alimentarão-me ancestrais
À sombra d'um jacarandá
Preta Velha, Preta Velha
Antes a fome em liberdade
Me navega o cheiro da morte
Desde o navio da perversidade
Preta Velha, Preta Velha
Trouxe pedrinha da Luanda
Que me apego, quando preguiçoso
Consequente ao pito da liamba
Preta Velha, Preta Velha
Que a lua reza tácita
Me benze com tuas lágrimas
De saudade de Mãe África
Preta Velha, Preta Velha
Reze pois com muito empenho
Pra tu não vires chibata
E nem eu senhor de engenho
Preta Velha, Preta Velha
Entrego-me ao vento, sou mais um
Guiará-me Obatalá
Filho primeiro de Olorun
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Versos de Ventana
pique-escondeu-te
rumando às casas feias
lua dos tristonhos
aventurei a buscar-te
para ceia
que me negas
por cheia
de meus assistidos
sonhos
rumando às casas feias
lua dos tristonhos
aventurei a buscar-te
para ceia
que me negas
por cheia
de meus assistidos
sonhos
terça-feira, 14 de outubro de 2014
Poema do Dia Seguinte
Quando eu morrer
Me impactarão
Palavras de diversos calibres
Me beijarão os dias
Livres
Do pesar de minhas lutas
Quando eu morrer
Não cantarão os passarinhos
Haverá um concertinho
De meninos iluminados
Que libertaram os passarinhos
Para cantar longe
Quando eu morrer
Um partideiro fará silêncio
De dois minutos
Um tamborim chorará
Saudade
Luto
De tanto que eu dava no couro
Quando eu morrer
Deixarei dois bilhetes de amor
Um de amargura
Deixarei candura aos amigos
Aos inimigos,
Meus livros favoritos
Quando eu morrer
Levarei comigo meus pecados
Meus pecados de pureza
Meus ingênuos pecados inofensivos
Meus pecados de afeto
Carimbados em mim, feto
Antes mesmo da luz conhecer
Quando eu morrer
Viverei por novenas
Em córneas,
Rins
E empoeirados poemas
Me impactarão
Palavras de diversos calibres
Me beijarão os dias
Livres
Do pesar de minhas lutas
Quando eu morrer
Não cantarão os passarinhos
Haverá um concertinho
De meninos iluminados
Que libertaram os passarinhos
Para cantar longe
Quando eu morrer
Um partideiro fará silêncio
De dois minutos
Um tamborim chorará
Saudade
Luto
De tanto que eu dava no couro
Quando eu morrer
Deixarei dois bilhetes de amor
Um de amargura
Deixarei candura aos amigos
Aos inimigos,
Meus livros favoritos
Quando eu morrer
Levarei comigo meus pecados
Meus pecados de pureza
Meus ingênuos pecados inofensivos
Meus pecados de afeto
Carimbados em mim, feto
Antes mesmo da luz conhecer
Quando eu morrer
Viverei por novenas
Em córneas,
Rins
E empoeirados poemas
Nuvens
limites da redoma que fito
sob topo de exuberante lua aparente
que quando transparentes
me iludem de infinito
sob topo de exuberante lua aparente
que quando transparentes
me iludem de infinito
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
Movimento Consuetudinário
2.3 métricas por metro
Smartphones, jornais
Presos aos relógios
Que transitam, vês
Livros, Cristos,
Intelectuais
Barra metálica por cetro
Cajado de rito. Aos demais
Subempregados, sócios
Sonolentos fingidores anti-cíveis
Respeitem, insisto
Os acentos preferenciais
Smartphones, jornais
Presos aos relógios
Que transitam, vês
Livros, Cristos,
Intelectuais
Barra metálica por cetro
Cajado de rito. Aos demais
Subempregados, sócios
Sonolentos fingidores anti-cíveis
Respeitem, insisto
Os acentos preferenciais
segunda-feira, 28 de julho de 2014
Phoebis Philea Philea
Isabela fora
Cicatrizadora
De mazela
Mas ela, por mim
Não mais zela
Carta chinfrim
Não mais sela
Os dela:
"Não mais cela"
Os meus:
"Lembra Marcela?"
Meses à janela
Diversificam aquarelas
Nosso amor
Borboleta amarela
Planando pela atmosfera
Nasceu outono
Morreu inverno
Sonhando ser primavera
Cicatrizadora
De mazela
Mas ela, por mim
Não mais zela
Carta chinfrim
Não mais sela
Os dela:
"Não mais cela"
Os meus:
"Lembra Marcela?"
Meses à janela
Diversificam aquarelas
Nosso amor
Borboleta amarela
Planando pela atmosfera
Nasceu outono
Morreu inverno
Sonhando ser primavera
quinta-feira, 17 de julho de 2014
Sarau da Placa de Publicidade do Metrô-Rio
Não chore,
Não corra,
Não morra,
Não ria,
Vá, no silêncio
De tua festa
Adentre
A primeira fresta
E a transborde
Poesia
segunda-feira, 30 de junho de 2014
terça-feira, 24 de junho de 2014
Cândida Marie,
Declama-te, o poeta louco:
És o invisível
Contido em tudo que se vê
Caravaggio,
Portinari, Monet
Desertora d'Orsay às cegas
Bailarina de adegas,
Deténs o poder
De enxergar alma nua
Deste, dito, maldito
Que jura-te a lua,
Só te trair com o infinito,
Danças, películas, monumentos,
Uma dose de surrealirismo
Ao expressionismo
Do nosso renascimento
És o invisível
Contido em tudo que se vê
Caravaggio,
Portinari, Monet
Desertora d'Orsay às cegas
Bailarina de adegas,
Deténs o poder
De enxergar alma nua
Deste, dito, maldito
Que jura-te a lua,
Só te trair com o infinito,
Danças, películas, monumentos,
Uma dose de surrealirismo
Ao expressionismo
Do nosso renascimento
segunda-feira, 9 de junho de 2014
Perguntados
Quantos poemas e melodias e momentos criastes
que careceram de partes infindáveis de tua infinita alma?
Que exigiram-te tua última gota de um possível suor plasmático
antes de apagar-te, dado por fraco, ao pé da materialização ou
firme memória do que fora alma tua?
segunda-feira, 26 de maio de 2014
Cinza dos Ventos
Tantos buscam um norte
(Pra minha sorte)
Escapo por sudoeste
Destino me põe à prova
Imponho à vida teste
Fecha-te, janela entreaberta
O frio adentra ligeiro
Como fujo pelo asfalto
Além-Rio de Janeiro
Ardi banquetes à lua cheia
Polinizei à nanquin, querubim
Trezentas e oito jasmins
Do jardim que me floreia
Em milhares, acampamento
Quando zeloso, chalé
Guiar-se em céu tempestuoso
É exigência de fé
De renegar o pé-de-meia
Onde gélido vento
Pede meia
E eu cá,
Sem meia no pé
(Pra minha sorte)
Escapo por sudoeste
Destino me põe à prova
Imponho à vida teste
Fecha-te, janela entreaberta
O frio adentra ligeiro
Como fujo pelo asfalto
Além-Rio de Janeiro
Ardi banquetes à lua cheia
Polinizei à nanquin, querubim
Trezentas e oito jasmins
Do jardim que me floreia
Em milhares, acampamento
Quando zeloso, chalé
Guiar-se em céu tempestuoso
É exigência de fé
De renegar o pé-de-meia
Onde gélido vento
Pede meia
E eu cá,
Sem meia no pé
segunda-feira, 28 de abril de 2014
Alfaiataria
À luz dos olhos, frestas
Não te envergonhe, não te rebele
Se a vi vestida de festa
No translúcido arrepio da pele
Deixe a saia no sofá
Só vá dissolver a roupa minha
Ando envolto em calor
Não programe alarme à calcinha
Que repousa no corredor
Atenta-te ao meu voto
Prefiro o controle remoto
Levantar n'outra manhã
Com teus seios a respirar
Redondos, rosados, maçã
Fugidos da tirania
Voraz de um sutiã
Professo, vide
É tempo de desnudar, suar, zombar
Antes que tudo se acabide
Não te envergonhe, não te rebele
Se a vi vestida de festa
No translúcido arrepio da pele
Deixe a saia no sofá
Só vá dissolver a roupa minha
Ando envolto em calor
Não programe alarme à calcinha
Que repousa no corredor
Atenta-te ao meu voto
Prefiro o controle remoto
Levantar n'outra manhã
Com teus seios a respirar
Redondos, rosados, maçã
Fugidos da tirania
Voraz de um sutiã
Professo, vide
É tempo de desnudar, suar, zombar
Antes que tudo se acabide
terça-feira, 8 de abril de 2014
Fauvo
quinta-feira, 6 de março de 2014
Le Beau Gris Solitaire
Gota de nuvem
Que não nutre flor
Deita no tempo-esponja
Que despoja
Tantas certezas de veraneio
Veste um pensamento
À mão, como luva:
Todo poeta é
Um continente indescoberto,
Praça Paris no deserto
De um dia cinza de chuva
Que não nutre flor
Deita no tempo-esponja
Que despoja
Tantas certezas de veraneio
Veste um pensamento
À mão, como luva:
Todo poeta é
Um continente indescoberto,
Praça Paris no deserto
De um dia cinza de chuva
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Em Última Mão
À bengala, dá-me impulso
Sustentas minhas digitais
Ao silêncio, desfilas sinais,
Extremidade pós-pulso
Tateias peles e temperos
Com memória infinita
Como um cão sunita
Fareja a essência do medo
Tens os traumas de minha infância
As frutas catadas no pé
A nascente do Rio Macaé
Os sangues de minhas valentias...
Nossos anos contam oitenta e seis,
Enrugada, trêmula e amarelada tez
Portadora de momentos de insensatez
Onde armazenas odor inverso às leis
Cá confesso a maior de minhas dores:
Quando à face no deserto de meu leito
Oferece-me... - Tenha dó de meu peito!
Arrefecido cheiro, da morte de meus amores
Adentrará em jazigo com primazia
E em cova me perfumarás
Sinestésicos aromas transcendentais
Unos, sob unhas descompassadas de poesia
Sustentas minhas digitais
Ao silêncio, desfilas sinais,
Extremidade pós-pulso
Tateias peles e temperos
Com memória infinita
Como um cão sunita
Fareja a essência do medo
Tens os traumas de minha infância
As frutas catadas no pé
A nascente do Rio Macaé
Os sangues de minhas valentias...
Nossos anos contam oitenta e seis,
Enrugada, trêmula e amarelada tez
Portadora de momentos de insensatez
Onde armazenas odor inverso às leis
Cá confesso a maior de minhas dores:
Quando à face no deserto de meu leito
Oferece-me... - Tenha dó de meu peito!
Arrefecido cheiro, da morte de meus amores
Adentrará em jazigo com primazia
E em cova me perfumarás
Sinestésicos aromas transcendentais
Unos, sob unhas descompassadas de poesia
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