[À meia-noite de sua noite de fuga, o jovem nagô levanta como fagulha de fogueira do pisador de terra batida e vai até a negra mais idosa da senzala entoando entreboca um canto-súplica, que todos aqueles que pingaram sangue ao solo conseguiam ouvir dentro de seus corações...]
Preta Velha, Preta Velha
Mãe de luz, força lúcida
Preta Velha, Preta Velha
Velha Preta, vou-me em fuga:
Preta Velha, Preta Velha
Esta noite vou-me embora
Vou-me pela mata adentro
Com o pensamento na senhora
Preta Velha, Preta Velha
Ouça este forte yorubá
Alimentarão-me ancestrais
À sombra d'um jacarandá
Preta Velha, Preta Velha
Antes a fome em liberdade
Me navega o cheiro da morte
Desde o navio da perversidade
Preta Velha, Preta Velha
Trouxe pedrinha da Luanda
Que me apego, quando preguiçoso
Consequente ao pito da liamba
Preta Velha, Preta Velha
Que a lua reza tácita
Me benze com tuas lágrimas
De saudade de Mãe África
Preta Velha, Preta Velha
Reze pois com muito empenho
Pra tu não vires chibata
E nem eu senhor de engenho
Preta Velha, Preta Velha
Entrego-me ao vento, sou mais um
Guiará-me Obatalá
Filho primeiro de Olorun
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