Certa vez, me sopraram:
"És passarinho;
Vareta, seda, rabiola"
Voei num instantinho
Cantando:
"Ninho não é gaiola!"
Do alto, batiam asas de prata
Cansadas dos olhos em Prada
Cruzei com revoadas,
- Cada qual em sua trilha
Avistei cachoeiras
Pousei em ilhas
Vi o mundo girar
No eixo do meu queixo
Presenciei abismos e picos
Carreguei morenas
Que de tão pequenas
Cabiam no meu bico
Eram veias, rios
Coração, tromba d'água
Turbilhão
Em todo usufruto privado
Havia um pouco de prisão
De olhar treinado, profundo
Concluí do meu cantinho
A desconstrução do ninho
Transfigurado em mundo
terça-feira, 31 de dezembro de 2013
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Ode: On
Na sujeira
Do teu Centro
Paira encanto
Acendo velas
Corro por vielas
Rateio em becos Depreendo
Teus flancos Choro negro, Rio Branco
Questiono-me, Proponho: Guanabara... Que vidas realças? Ofereças um sonho!
De samba-canção, Não valsa Aos condenados do tráfego Na Barra Da minha calça
Acendo velas
Corro por vielas
Rateio em becos Depreendo
Teus flancos Choro negro, Rio Branco
Questiono-me, Proponho: Guanabara... Que vidas realças? Ofereças um sonho!
De samba-canção, Não valsa Aos condenados do tráfego Na Barra Da minha calça
terça-feira, 19 de novembro de 2013
Você Passa Eu Acho Garça
Quis a ti pra meu almoço
Mas você não apareceu
Já não era mais a mesma
Que um dia me pertenceu
Com pernas longas e magras
Acabou-se o meu tesão
Idolatrava a fartura
Que enchia meu colchão
Ah, e agora, você passa
Eu acho garça
Mas você não apareceu
Já não era mais a mesma
Que um dia me pertenceu
Com pernas longas e magras
Acabou-se o meu tesão
Idolatrava a fartura
Que enchia meu colchão
Ah, e agora, você passa
Eu acho garça
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Racket
Tremes
Faço prosa
Fumo meio maço
Rio
Se tênis
Me jogas
Pois me amarro
Em teus cadarços
Já escuro
Em proximidades
Te caço
Te juro
Acorrentam-me
Doze furos
Que sustentam
Nosso laço
terça-feira, 29 de outubro de 2013
Sem Prosa ou Epopéia: A Prosopopéia
Cheia, se faz plena
Do lado negro do ciclo
Meu sorriso mais sincero
Além dos outros vinte e três
Amarelo, tal qual ela
Longínqua, maciça tez
Enquanto pequenos olhos retesados
Ausentes de sua existência
Enrolam, rolam
Brincam com avidez
Pela extensão do globo que lhes cabem
Ela nos admira
Ao grito lúdico da feliz espontaneidade
À contida lágrima da ferida à face
Amena gravidade
Enquanto aprecia
Estática
A sinfonia dos bichanos
- que antes mamutes
Cachorros, gatos
E bêbados transeuntes
Findando sua estadia
Conforme deito e calo
Atrás do pano azul
Após o solo tenor
Do galo
Do Seu Antenor
Do lado negro do ciclo
Meu sorriso mais sincero
Além dos outros vinte e três
Amarelo, tal qual ela
Longínqua, maciça tez
Enquanto pequenos olhos retesados
Ausentes de sua existência
Enrolam, rolam
Brincam com avidez
Pela extensão do globo que lhes cabem
Ela nos admira
Ao grito lúdico da feliz espontaneidade
À contida lágrima da ferida à face
Amena gravidade
Enquanto aprecia
Estática
A sinfonia dos bichanos
- que antes mamutes
Cachorros, gatos
E bêbados transeuntes
Findando sua estadia
Conforme deito e calo
Atrás do pano azul
Após o solo tenor
Do galo
Do Seu Antenor
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Ablução
Em remotos:
Transtorno
Tufão
Maremoto
Em sede, cedeste
Livros à mão
LP's à vitrola
Cá remonto:
Adorno
Assopro
Marola
Transtorno
Tufão
Maremoto
Em sede, cedeste
Livros à mão
LP's à vitrola
Cá remonto:
Adorno
Assopro
Marola
domingo, 28 de julho de 2013
Poligamia
Mari é a cozinheira da casa
Uma receita mais esquisita que a outra
Mas só aparece o menu variado
Depois que beijo a sua boca
Educada, muito boazinha
E tem conhecimento medicinal
Cura dor e abaixa a pressão
Em toda sua vida não fez nenhum mal
Ju? Safada! Mulher fatal!
É gostosa e nela me acabo
Se aperto ela com jeito
Já me aparece de fogo no rabo
Não consegue se controlar
Corpo dormente no meio da rua
Por causa dela, já dei
Vários passeios de viatura
Com Ana eu vou pra boemia
Ela nunca me leva a sério
Vibra quando fico eufórico
E bota um samba no meu estéreo
Sempre brinco com a festeira
E brincadeira, ela gosta e atura
Grito, quando usa a cor que gosto
“Se verde tá assim, imagina madura!”
Uma receita mais esquisita que a outra
Mas só aparece o menu variado
Depois que beijo a sua boca
Educada, muito boazinha
E tem conhecimento medicinal
Cura dor e abaixa a pressão
Em toda sua vida não fez nenhum mal
Ju? Safada! Mulher fatal!
É gostosa e nela me acabo
Se aperto ela com jeito
Já me aparece de fogo no rabo
Não consegue se controlar
Corpo dormente no meio da rua
Por causa dela, já dei
Vários passeios de viatura
Com Ana eu vou pra boemia
Ela nunca me leva a sério
Vibra quando fico eufórico
E bota um samba no meu estéreo
Sempre brinco com a festeira
E brincadeira, ela gosta e atura
Grito, quando usa a cor que gosto
“Se verde tá assim, imagina madura!”
segunda-feira, 1 de julho de 2013
Ana Morada
De beleza dourada
Conheci em Dourados
Ana Morada
Se fez amada
No primeiro ano
Juntamos morada
Ana Morada
A namorada
Conheci em Dourados
Ana Morada
Se fez amada
No primeiro ano
Juntamos morada
Ana Morada
A namorada
domingo, 23 de junho de 2013
Àusência
Um homem experimentou a saudade
E sobre a saudade concluiu:
Quem diz que mata, exagera
Quem diz que não, nunca a sentiu
E sobre a saudade concluiu:
Quem diz que mata, exagera
Quem diz que não, nunca a sentiu
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Uma Crônica sobre Soluço, Simpatia - Um Pequeno Comentário sobre Quem Toca Legião Urbana em Roda de Viola - Pink Floyd, Flash, Alienígena, Collant e Dívida - Necessariamente Nesta Ordem
- Fade in -
- Ic! Ic! Ic...
Fazia mais de duas horas que soluçava. Não conseguia parar! Não conseguia dormir! Lembrei de uma simpatia antiga de colocar um papelzinho na testa.
- É isso! - ecoou em minha mente.
Num quarto escuro como noite sem luar, estiquei minha mão direita pro criado-mudo - que ainda que não fosse mudo, não teria muito o que dizer de mim, era minha primeira noite na cidade - e apalpei o que parecia ser um pequeno papel. Sem muita certeza, coloquei na língua e logo na testa.
Senti um certo sabor ao colocar na língua, mas devido ao forte tempero do jantar daquela noite, não me deu pra diferenciar muito. Pensei ser um daqueles chicletes que parecem papel arroz e aderem à boca. Cinco minutos de papel na testa e o soluço de mais de duas horas acabara. Sem pestanejar, chiclete na boca.
Eu havia marcado de encontrar uns amigos pra fazer uma fogueira e tocar uma viola e, naquela de sempre, falar que tava desanimando a galera quando alguém puxasse Legião Urbana.
Acendi a luz. Fui ao banho e vestir-me, necessariamente nesta ordem. Já pronto, esperei 20 minutos pra ficar compatível com o horário de chegada de todos. Passados os minutos, parti ao encontro dos cretinos.
No meio do caminho, me senti estranho, como se meu corpo estivesse levando pequenos choques e meus músculos enrijecendo em alguns espasmos. Jurei beber menos café, me pareceu excesso de cafeína.
Lá fui eu andar pela primeira vez na madrugada de tal cidadezinha. Devia haver uns 7000 habitantes lá. A partir de um tempo andando, comecei a achar que errei o caminho. Não me fazia mais sentido as ruas. Ah, importante dizer que estava ouvindo "The Dark Side Of The Moon", no modo aleatório, com o fone de ouvido, diretamente do meu humilde celular. Quando constatei que estava perdido, estava tocando "Brain Damage" - "the lunatic is in my head..." - o que me pareceu sarcasmo do destino.
Enfim, não encontrava uma alma viva no meio das ruas que me enfiei. Fui tentando descobrir o caminho do meu jeito, não sei se por intuição, guiando-me pelas estrelas ou simplesmente andando pela vontade de andar - como eu estava com vontade de andar!
Em algum momento parei para admirar o céu. As nuvens passavam em formas diversas. Via cardumes, palafitas, rolos compressores... Por um instante eu pisquei, e quando abri o olho novamente, um flash me atingiu de cima! Não entendi bulhufas! Máquinas fotográficas no meio do nada?! Não me parecia coerente. Por uns segundos fiquei atordoado, até me deu vontade de sentar até recuperar a normalidade da visão, mas aguentei firme em pé.
Ao recuperar, olhei pra tudo que é canto e não tive a menor ideia de onde veio o tal flash. O que me assustou, resolvi andar no sentido contrário que ia, cada vez mais rápido.
Alguns minutos depois, com o coração acelerado, subi uma calçada com um grande muro de granito à direita - meus olhos só fitavam a calçada, como um cão assustado.
Quando enfim tive coragem de levantar o rosto, deparei-me com uma criatura magra de olhos vermelhos e arredondados com - sei lá - um metro e oitenta cinco de altura. Me acenava com três dedos!
- FUDEU! UM ALIENÍGENA! - este pensamento me atingiu a cabeça como um raio!
Peguei o primeiro rumo à esquerda e corri que nem jamaicano de collant amarelo e verde!
Logo identifiquei que era o caminho da minha pousada. Corri ainda mais rápido. Passei pela recepção. Subi as escadas que rangiam. Entrei no quarto com toda pressa, tive nem problemas em acertar a fechadura. Ao fechar a porta, meu amigo que me trouxera à cidade e dividia o quarto comigo tomou um susto.
- Cara, que houve? Tu tá pálido!
E eu tomei um susto maior ainda! Que se o soluço não tivesse passado até aquela hora, iria passar certamente nesse susto!
- E você?! Não combinamos de nos encontrar no bar?!
- Sim! Combinamos! Mas ainda faltam vinte minutos. Vim tomar um banho e me vestir pra ir. - necessariamente nesta ordem.
Olhei no relógio e, realmente, ainda faltavam vinte minutos! No dado momento, começa a tocar "Time" no fone direito - o esquerdo eu havia deixado pendurado na camisa, para melhor dialogar.
- Não é possível! Horas atrás eu estava com soluço! Fiz a simpatia de colocar o papelzinho na testa! Que eu ainda não sei se é chiclete... Mas funcionou! Aproveitei o fim do soluço para tomar um banho e me vestir. - necessariamente nesta ordem - E aí já faltavam vinte minutos! - enquanto eu me exaltava no discurso, o ouvinte da cena estava quieto debaixo do chuveiro do outro lado da porta - Fui para o bar! Errei o caminho! Me perdi! Teve um grande flash na minha cara no meio do porra nenhuma! Fiquei assustado e corri! Bati de frente com um alienígena! Agora eu tenho certeza que aquele flash era a nave...
Enfim ele iria me interromper:
- Você reparou que tinha uma estátua de alienígena no centro da cidade quando viemos, né?
Eu havia reparado! Mas no calor do momento tivera eu esquecido. Me pareceu coerente o que insinuara. Resolvi aceitar tal suposição vinda da parede fina que separava o banheiro e o quarto como verdade.
- Ih.... É mesmo! - respondi assim, mas acho que ainda havia uma pequena parte de mim que acreditava em algum tipo de abdução. - Eu tenho cada uma!
- Fade Out-
Cinco segudos, conta aí.
- Fade in -
- Ei, cara! O papelzinho que você achou que era chiclete... Estava em cima do criado-mudo?
- Sim.
- Você mascou depois?
- Aham.
- Ok. Me deve 30 reais.
- Fade out -
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Autonomia
Arcaicos usavam pena
Esferografo, pois sou moderno
Cá registro minha admiração
Ao findar deste caderno
Ilumina-nos o sorriso marfim
Embeleza bocas tuas e minhas
Sei, na pauta da vida, até o fim
Nós
determinamos
a
quantidade
de
linhas
Esferografo, pois sou moderno
Cá registro minha admiração
Ao findar deste caderno
Ilumina-nos o sorriso marfim
Embeleza bocas tuas e minhas
Sei, na pauta da vida, até o fim
Nós
determinamos
a
quantidade
de
linhas
quinta-feira, 4 de abril de 2013
O Caso da Contemplação Pungente
Invadia-me os olhos, abaixo do chapéu-panamá
Não por oftamologia, sim por psicologia
Aquecia o sangue à análise da retina fria
Revirava-me o estômago uma panapaná
Com a serenidade do habitante de monastério
E esguias pernas de garça - sua graça?
Causara-me o torpor do vinho, mil taças
Não estava em suas palavras o mistério
Fulgor duradouro, desmantelador, um trauma!
Ainda que meus lábios só vinham o nome informar
Seu olhar fronteiro parecia evidenciar
Os segredos mais dissimulados de minh'alma
Não por oftamologia, sim por psicologia
Aquecia o sangue à análise da retina fria
Revirava-me o estômago uma panapaná
Com a serenidade do habitante de monastério
E esguias pernas de garça - sua graça?
Causara-me o torpor do vinho, mil taças
Não estava em suas palavras o mistério
Fulgor duradouro, desmantelador, um trauma!
Ainda que meus lábios só vinham o nome informar
Seu olhar fronteiro parecia evidenciar
Os segredos mais dissimulados de minh'alma
segunda-feira, 18 de março de 2013
Soneto da Penosa Imensidade
É retiro que não mais me apetece
Infindável gangorra em tons azuis
Soa-me como um inocente blues
De reunidas mãos, em sinal de prece
Em índole tunante fiz porto
Afável cais em bela marina
Fabulosas janelas de morfina
Aninham-me o coração semimorto
Há, contudo, que o Atlântico insiste
Em presença, que à fraca mente acalma
E que nele hei de morrer ancorado
Há dez docas, vento tem segredado
Zunindo em minha condenada alma
- Vida é onda, e o mar é sempre triste
Infindável gangorra em tons azuis
Soa-me como um inocente blues
De reunidas mãos, em sinal de prece
Em índole tunante fiz porto
Afável cais em bela marina
Fabulosas janelas de morfina
Aninham-me o coração semimorto
Há, contudo, que o Atlântico insiste
Em presença, que à fraca mente acalma
E que nele hei de morrer ancorado
Há dez docas, vento tem segredado
Zunindo em minha condenada alma
- Vida é onda, e o mar é sempre triste
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