quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Tenuidade


Mal querer, castigado refém
Açoitado em nome do pudor
Lembrarão eles, pois bem
Respiradores de amor
Que o "bem-me-quer" também
Despedaça a pobre flor?

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Delatorandorinha


Andorinha lá fora está dizendo:
- Abandonaste a poesia! Abandonaste a poesia!

Andorinha, andorinha, não sabes como estou!
Não abandonei a poesia, a poesia me abandonou.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Versinhos de Bem-Me-Quer

Brincou de ser favorita
Sorriu sem ser amor
Se a vida ficou colorida
Você foi o lápis de cor

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Dilaceração

Sorrelfa, extrapola os limites do meu verso,
Despeço.
Soturna, evade do alcance de meu braço,
Despedaço.

Cabeça-Ponta


Ao avesso, interpretei-me:
Batman fantasiado de Wayne
Saxofone tocando o Coltrane

sexta-feira, 1 de junho de 2012

A Aflição do Arretado Inimigo do Vento

Ventou ventania forte
E levou minha morena embora
Foi tremenda falta de sorte
Ventar por aqui agora!

Vou achar a estrada do vento
E buscar minha morena-pipa
Talvez pro final de novembro
Eu volte com boa notícia

Que o frio não a açoite
Enquanto eu não apareça
Pra ninar seu sono à noite
E na manhã afagar sua cabeça

Subo até o céu para com Deus
Reclamar do ar em movimentação
Que levou embora o que é meu
E só me fez ter lamentação

Trarei de volta minha doce morena
Nem que encare uma Odisséia
Por ela encho o jardim de falena
E mato vinte Leões de Neméia

Domo Minotauro pelo chifre
Enfrento até a tal sereia Iara
Pra te voltar com peito em riste
E nadarmos nus em Jericoacoara

Mas vai ver não precisa escarcéu
Vento que venta aqui, venta lá
E o vento a volte com um véu
Para nós podermos casar

Vou te tratar igual fulô
Te guardar no coração
Pra todo dia morrer de amor
Que nem chuva no sertão!

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Àquele que mata a tristeza da gente

O mundo fez-se frio
Numa rua estreita
Que feliz me aceita
No Centro do Rio

Às palmas, a tarde varo
Não marco bobeira
Quando puxam Nogueira
Nem quando Clara, claro

Visa-me a mulata
Com a negra manha
Ao Canto de Ossanha
(Que sempre me arrebata)

Contente por inteiro

Do samba, só a nata
Na mão, só a gelada
Ao lado, companheiros

Um dia, aprenderão
Por tardar, com rosto rubro
Onde cavaco chora
Tristeza não faz muro
Malandro não dá furo
E felicidade não vê hora

terça-feira, 10 de abril de 2012

Feixe

Fito
A fita
Fixa
Fatiar
Feito
Faca
Fraca
Que afaga

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Nebulosa

Escadas acima
Até o terraço
No caminho
Cansaço
Noite silenciosa
Já avistava
A névoa no ar
Que me agradava
O estresse desfeito
A cabeça feita
Visão se estreita
Pra que a retina usufrua
Como eram bonitas
As nuvens escamosas
Com pintas de estrela
Desviando da Lua

terça-feira, 20 de março de 2012

O Mundo Anda Tão Complicado

Entro com um sorriso. Há nele algo. Algo que ressalta uma beleza que, até então, era nova pra mim.

No lado externo, uma garoa insistia em cair. O que fez ele reparar nas minhas meias molhadas e, apesar da diferença no tamanho dos nossos pés, procurar um par de meias que em mim coubesse. Sabia que eu adorava ficar de meias.

Chegamos há pouco da sessão das dez e, como de costume, eu não tinha que me preocupar com o horário que iria despertar. O que era bom, porque a bateria do meu celular iria me deixar na mão, como sempre.

Ainda está em processo de mudança para este local, mas acredito que, apesar do fogão, geladeira, cama, aparelho de som e televisão que havia carregado para o novo apartamento, a maior mudança em sua vida que aqui se encontra é, de fato, eu.

Apesar de não morarmos juntos, tenho a chave. Nunca me foi útil, pois nunca entrei sem ele estar. Faço esse tipo meio-tímida-meio-educada.

Final de semana farei uma feijoada. Ele pode chamar os amigos. Aposto que vai cantar aquela música do Chico quando eu compartilhar a minha ideia. Ele adora Chico, foi o primeiro presente que me deu na vida, uma coletânea do Chico em um aniversário meu. Definitivamente, farei uma feijoada.

- Estou com sono. Vem dormir agora?

E lá vou eu, mas não devo pegar no sono ainda, vou assisti-lo dormir por um tempo. Acha que não durmo a noite, pois sempre que acorda me flagra fitando o seu rosto.

Por mim, ficaríamos para sempre nessa proteção que desenvolvemos em cada lugar que possamos nos tocar. Afinal, lá fora, o mundo anda tão complicado...

quinta-feira, 8 de março de 2012

Oito de Março

Mulheres, admiradas à exaustão
Banhadas em fonte de ternura
Masculina alma, com calma, jura
Dedicar-lhes verso, pintura, canção

Ah, mulheres, o que quereis?
Somos fracos frente a vós
E não há força dentro de nós
Que não morra diante a vocês

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Confortável Purgatório

Na tempestade de outrora
Minha alma pairou
No relógio-qualquer-hora
Que o vento-leste levou

Apetite atravessado
Que rejeita e quer
Se vira do modo que der
Mundano, desvairado

Intrínseco gosto-café
Do querer abastado
Prometo durar até
Desalentar-se, ser fardo

Importuna à santa rosa
Que exponha em curto verso
A ambição que confesso
Cobiçar em excesso-prosa

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Caloríficos

E nas noites frias
Eu a mantinha
Agarradinha
Quentinha
Embaixo
Bem de baixo
Da minha mantinha

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Poeminha de Verão

Braços
De afeto farto
Cabelos
De afável olfato
Derreto-me
Estúpido fato
E morro
Estupefato

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Os Mendigos

Eles se entrelaçavam
E olhavam-se nos olhos ternamente
Compartilhavam proteção
Deitados na calçada
De uma ladeira, das muitas
Que pulei carnaval em Santa Teresa

Uns julgariam seus sexos
Outros, suas idades
Ainda, quantos níqueis carregavam
Apenas me importei com a capacidade
De amar, proteger, ignorar
A multidão

E na responsabilidade sustentada
Pelo véu de freira à cabeça
Eu os abençoava,
Como se fosse santo

domingo, 22 de janeiro de 2012

Sobre escritores e seus trejeitos.

Escritores tem um modo poético de sofrer. Eles têm personalidade peculiar. E não existe exceção a tal regra. Estão acostumados a criar personagens e determinarem as diretrizes de seus devaneios em papel. Brincam de Deus. São roteiristas, diretores, podem ser inspirações para os seus próprios personagens. Mas nunca os são. Escritores não sabem ser personagens. Exatamente por definirem rumos. E quando eles se enxergam personagens de uma história que eles não têm tal poder de decisão, se perdem.  Eles criam conflito, para darem clímax as suas estórias.  Conflitos: os que funcionam à base de pena e tinteiro contam os segundos para escreverem algo onde haja conflito. De interesse, de ego, crise existencial, traições, desconfianças, amores proibidos, lutas, anseios... Escritores vivem pelos conflitos.  E pelos vinhos baratos, e pelos dois cigarros e meio queimados pelo chão de suas casas. Escritores enlouquecem por não serem donos da fábula em que vivem, do cenário em que respiram, da maquiagem que usam, dos semblantes que se deparam pelas ruas. Eles imaginam os amores ideais que façam qualquer um amargurar-se por não estarem vivenciando tais. Porém não sabem lidar com seus próprios amores.  São presos aos grilhões de suas imaginações. Eles apagam, ou rasgam páginas e páginas quando, posteriormente, não gostam do resultado. Mas não podem rasgar dez segundos de suas vidas, como se nunca tivessem sido escritas. É o perigo de se brincar de Criador quando se é mortal. Sim, são meros mortais brincando de inventor de mundos.  Quando seus próprios mundos, digo, o que estão inseridos, se desabam ao redor. O tempero visual que rege a vida se azeda, e se distancia. Eles pecam. Sim, eles certas horas são seres supremos e intocáveis, e em outras... Pecam. Contradizem suas palavras e ações. Mas não que suas palavras valham menos que as ações. Muito pelo contrário, eles valorizam mais as suas palavras do que suas vidas. É fácil enganá-los. Pode agir errado, e falar o certo e pronto, conquistou-os. E mesmo em qualquer estado errôneo, desencontrado, desleixado, incabível, eles não mentiriam, pois, os mesmos, vivem da sinceridade de suas frases. Escritores carregam a sombra de si. O ego inflado e o coração murcho. Principalmente os poetas, esses sofrem de qualquer modo: parnasiano, romântico, barroco... São melancólicos demais para o mundo e, o mundo é melancólico demais pra eles. E aí está seu combustível artístico.

Eu deveria ter sabido de tudo que agora digo antes de escrever meu primeiro verso, minha primeira carta, minha redação do vestibular, antes mesmo, de ter descrito minha primeira admiração pelos céus estrelados ou pelo pôr-do-sol de uma praia, ou montanha qualquer.

sábado, 21 de janeiro de 2012

1/2

Porque metade de mim se perdeu no vazio da indiferença. Fez morada ao primeiro anoitecer da impaciência. Caçou medo para poder se alimentar. Bebeu o néctar da destemperança em cuia de dúvida. Sentou-se ao mirante do desengano. Penou com afinco quase mórbido. Somente por ter, como único objetivo, a melhor vista possível para o amanhecer do sorriso no rosto de quem levou a outra metade embora.