quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Prelúdio

Nada disse. Reparei. Olhei. Fitei. Tinha belos olhos. Ora arregalava-os, como quem estava sem seus óculos. Ora recolhia-os, não sendo mais necessário visualizar seu entorno. Olhos bastante conhecidos. Olhos que pareciam cumprimentar a todos como um velho prefeito de cidade pequena. "Seja bem-vindo" - diziam-me, os olhos.

Não era do tipo tagarela. Era afetuosa, expontânea. Vez ou outra explodia em movimentos bruscos. Assim eram seus abraços que, mesmo sem razão evidente de existir, entregavam-se. É o tipo de abraço que transmite uma energia entre as epidermes que se chocam. Deixando a pele marcada, deixando cheiro, rastros de vivacidade. Quando falava, era ligeira. Se existiam vírgulas, eram grudadas às palavras.

De cá, eu procurava uma brecha que abreviasse meu desejo: uma medida, uma concordância verbal, uma angulação, até um cílio mais levantado que os demais. Ao reparar minha inquietude, ela me sorriu. Sorriu, assim, sem finalidade. E o meu mundo - ah, o meu mundo... - nunca mais foi o mesmo.