As trombetas que anunciam o sol
Terão amanhã outro timbre
O sabor da gorda manga que escorre
O suco da terra
O abraço da mãe
O ranger dos armários
Dará voz a outras poeiras
[O dia de hoje não se repetirá]
Todo sonho é hoje
Ainda que na expectativa do ontem
Ainda que na saudade do amanhã
As plantas não tem ápice nas flores
As plantas tem ápice desda semente
[O dia de hoje não se repetirá]
Como amas teus amores
Se os tratas em contínuo
E nunca em encontros...
Amar é desconstruir reconstruções
Cada amar é tão seu
Cada bem é um novo cuidado
Cada minuto é tão escasso de hora
Nada pede o que se implora
[O dia de hoje não se repetirá]
Um terço no colchão
Mais é menos
Tempo de encontros...
Tempo de sabores...
Tempo de sabedorias...
Vista-se de existência
Após escovar os dentes
[O dia de hoje não se repetirá]
De arrependimento não se vive
Sabia do mantra, o Batista
Todo jornal é um novo hoje
Viste? Amanhã não existe
Nem pro sonho, nem pra louça
[O dia de hoje não se repetirá]
Os inícios dos rios são renascentes
Cada cuidado é um novo bem
Os rios não olham para trás
Nem os efemerópteros
Que tem por hoje a vida inteira
[O dia de hoje não se repetirá]
© michael nichols - efemerópteros no rio tisza |